Liniker é a primeira artista trans a granhar um Grammy na América Latina
Liniker faz história no Grammy Latino com Caju — e reforça a força da presença LGBTQ+ na música brasileira

- Melhor Canção em Língua Portuguesa por Veludo Marrom, faixa do álbum Caju.
- Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa por Caju
- Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa
Por Sergio Viula
A 26ª edição do Grammy Latino trouxe uma vitória que vai muito além da música: trouxe visibilidade, potência e afirmação. Liniker, uma das artistas mais influentes da música brasileira contemporânea, levou o prêmio de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa com Caju, seu segundo disco de estúdio — em uma das categorias mais concorridas da noite.
Concorrendo com nomes como Carol Biazin, Janeiro, Julia Mestre e Marina Sena, Liniker se destacou não apenas pela qualidade artística, mas pela singularidade estética e emocional que construiu em Caju. A conquista consolida a artista como uma força criativa em escala internacional — e reforça o impacto da presença de artistas trans e LGBTQ+ na maior premiação latina da música.
O que faz de Caju um álbum tão poderoso
Lançado em 2024, Caju mistura pop, soul, blues, jazz, eletrônica e brasilidades com uma naturalidade que só Liniker sabe transformar em poesia sonora. Não é apenas um álbum: é uma jornada afetiva.
Em entrevistas, Liniker descreveu Caju como um projeto concebido para funcionar como um filme — com início, meio e fim, guiado por uma narrativa emocional contínua. A artista também revelou que criou “Caju” como um alter ego, uma espécie de espelho interno:
“Caju estava me mostrando tudo o que as pessoas veem em mim e que eu não enxergava. Eu precisei ser mais flexível, mais paciente e mais amorosa comigo mesma.”
O álbum foi gravado de forma analógica, escolha que dá textura, profundidade e sensação de proximidade — como se cada instrumento estivesse sendo tocado dentro da sala onde ouvimos.
Letras que revelam vulnerabilidade, cuidado e presença
Um dos versos mais comentados da faixa Caju diz:
“Quero saber se você vai correr atrás de mim no aeroporto / Pedindo pra eu ficar, pra eu não voar…”
É uma confissão delicada sobre desejo, pertencimento e a vontade de ser escolhido — temas universais, mas que, na voz de Liniker, carregam também a sensibilidade da vivência trans negra no Brasil.
Críticas especializadas descrevem o álbum como:
“Um grande confessionário de fim de noite… onde o afeto é demonstrado nos detalhes, na atenção, no gesto pequeno que revela cuidado.”
Essa sensibilidade estética conecta a obra diretamente à sua experiência enquanto artista LGBTQ+, reafirmando que existimos, amamos, sofremos e celebramos — e que nossas histórias produzem arte grandiosa.
Representatividade no palco do Grammy: o que isso significa
A vitória de Liniker não é um “feito individual”: é um marco simbólico.
É a confirmação de que artistas LGBTQ+ — especialmente artistas trans — estão ocupando espaços que historicamente lhes foram negados.
Liniker tem falado frequentemente sobre presença, ancestralidade e conexão como fundamentos de sua arte:
“É impossível fazer arte sem presença… sem estar conectado consigo mesmo, com a ancestralidade, com o mundo.”
Sua presença no Grammy Latino, portanto, é política, estética e afetiva.
É uma resposta poderosa à transfobia cultural e institucional que ainda persiste no Brasil e no mundo. É prova de que talento, sensibilidade e autenticidade seguem abrindo caminhos.
Por que essa vitória importa para a comunidade LGBTQ+ brasileira
Caju mostra que narrativas LGBTQ+ não são marginais: são centrais, universais e artisticamente relevantes.
Liniker se torna referência internacional para jovens artistas trans e queer.
A vitória amplia conversas sobre visibilidade, inclusão e representatividade no entretenimento.
É mais uma confirmação de que nossa arte, nossas histórias e nossos corpos estão transformando o cenário cultural.
Quando uma de nós vence, todas vencem
A conquista de Liniker no Grammy Latino é um daqueles momentos que merece ser celebrado com força.
Não apenas porque é uma artista excepcional — mas porque ela abre portas, ilumina caminhos, amplia imaginários e representa milhões.
Caju é um álbum sobre sensibilidade, amor, corpo e presença.
A vitória é sobre tudo isso — e sobre o fato de que vozes LGBTQ+ continuam ascendendo, ocupando o mundo e colhendo reconhecimento internacional.
E que venham muitos outros prêmios.










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