Benedita faz comovente discurso no 15º Seminário LGBT do Congresso (2018)

Transcrito por Sergio Viula
para o blog Fora do Armário
a partir de vídeo do canal da Câmara dos Deputados
https://www.youtube.com/watch?v=Q8JLUtKnTXU



Deputada Federal Benedita da Silva na abertura 
do 15º Seminário LGBT do Congresso Nacional, 06/06/2018.


Bom dia a todos e a todas aqui presentes.

Eu não poderia deixar de estar aqui porque tenho convivido com as desigualdades nos direitos das diferenças. E isto me faz, de uma certa forma, querendo ou não, direta ou indiretamente, [estar] compromissada com o que nós chamamos de liberdade, o que nós chamamos de democracia, o que nós chamamos de fraternidade, o que nós chamamos de companheirismo. E nesta Casa, encontrei um amigo, alguém que me representa, porque não posso e não devo, como tantos no Congresso Nacional Brasileiro, desfazer-me da minha identidade. E não o faço a partir dos meus familiares.

E nessa manhã, eu quero dar o meu abraço fraterno e companheiro a Jean Wyllys - este homem, nesta Casa, que representa o que se tem de mais - mais é aquilo que a gente pode ver como companheirismo nas horas difíceis do mundo, nas horas difíceis do Brasil e nas horas difíceis das nossas vidas. É alguém com quem você pode se sentar, como no meu caso, evangélica, e podermos trocar ideias, falarmos das nossas diferenças, nos respeitarmos e prosseguirmos.

Então, nós devemos, nesta Casa, a ele este companheirismo porque há de se ter coragem para combater a discriminação, para combater a exclusão, para combater a LGBTfobia, para combater o racismo. E nós encontramos neste companheiro, nesse grande deputado federal, que para nós não representa apenas o estado do Rio de Janeiro; representa uma causa brasileira, da qual nós temos nos esquivado de fazer o grande debate para que esse Brasil plural possa ter e dar continuidade nesta chamada igualdade nas diferenças.

Mas quero dizer, sobretudo, Jean Wyllys, que me chamou muito atenção o tempo de nossas vidas que geralmente nós tratamos como se fôssemos iguais, como se nós não tivéssemos as nossas diferenças, que nos levam a ter problemas que [outros] criam para nós nessas nossas diferenças. Então, a saúde, é muito importante, mas esse tema, incluído na saúde, nós sabemos que ainda precisamos amadurecer. E nós não tratamos da saúde e do bem-estar na hora do envelhecimento. Nós temos toda uma vida que deve ser respeitada, perseguida, desde a nossa infância.

E por isso, eu estou aqui para trazer o meu abraço. Porque eu, Jean Wyllys, como tantas outras famílias nesta Casa, também temos os chamados problemas familiares. Eu quero apenas concluir dando o meu testemunho.

Minha família, negra, alguns não vieram no mesmo navio, e tivemos, portanto, pensamentos diferenciados. E não poderia também fazer uma séria cobrança, na medida em que todos nós recebemos, sem dúvida alguma, aquela cultura do machismo, do racismo, independente do nosso sexo ou da cor da nossa pele.

E a minha família quando teve que enfrentar nesse momento, na nossa família, LGBT feminino e feminina, foi um desastre para a minha cabeça de mulher cristã, foi um desastre para a minha cabeça de gente, porque quando nasceu aquela menina, ou quando nasceu aquele menino, na minha família, eu tive tanto amor, eu tive tanto carinho, eu festejei a chegada dele. [voz emocionada] E num momento em que ele toma suas decisões em sua vida, eu boto para fora. Porque é assim que muitas famílias ainda, mesmo sendo negras discriminadas, quando se deparam com esta realidade, elas põem para fora.

E eu vivi momentos terríveis no combate ao machismo, ao racismo, com alguém que eu amo até hoje e que já está se definhando agora porque tem um câncer - é meu sobrinho, o Tobias. [voz emocionada]

E quando eu vi colocá-lo para fora, quando eu vi que ninguém mais dava atenção - os irmãos -, e a mãe que não reagia, eu pude colocá-lo em meu colo e dizer: Você vai morar comigo e nós vamos enfrentar juntos esse momento.

Hoje, tenho uma família mais orientada, um pouco mais orientada, mas foi extremamente difícil.

E é assim que eu te vejo Jean, chegando nessa Casa com toda sua competência. Você é um homem que é desrespeitado - porque você é desrespeitado por alguns, principalmente por aqueles que não têm a cultura sua, que não têm o seu conhecimento, que não têm a sua ideologia - e que fazem do seu momento um momento de se esconder, é uma cortina que se cria porque não têm coragem de abraçar uma causa, denunciá-la e se comprometer com ela.

Um grande abraço para todos vocês, muita saúde, muita vida e um envelhecimento saudável. (aplausos)



Ao final de sua fala, Benedita e Jean Wyllys
se abraçaram carinhosamente.



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