O posicionamento do Pride in London sobre as manifestantes anti-trans
Parada do Orgulho LGBT de Londres se descupla pelas manifestantes anti-trans durante o evento
"Os participantes [da Parada] do Orgulho que estavam em Londres ontem [sábado, 07] nos disseram que as ações de oito pessoas não detiveram a alegria e o amor que foi demonstrado pelas 30.000 pessoas que a acompanharam." - Pride in London
Publicado em 8 de julho de 2018
Gay Star News
Por Rafaella Gunz
"Os participantes [da Parada] do Orgulho que estavam em Londres ontem [sábado, 07] nos disseram que as ações de oito pessoas não detiveram a alegria e o amor que foi demonstrado pelas 30.000 pessoas que a acompanharam." - Pride in London
Legenda: "Coloque-se contra o fanatismo anti-trans".
Publicado em 8 de julho de 2018
Gay Star News
Por Rafaella Gunz
https://www.gaystarnews.com/article/pride-in-london-apologizes-for-the-anti-trans-protestors-during-the-parade/#gs.oXnEQxY
Traduzido por Sergio Viula
O sábado, dia 07 de julho, marcou a Parada do Orgulho LGBT oficial de Londres. Todavia, um grupo de manifestantes anti-trans bloqueou a rota da parada, causando tumulto entre a comunidade LGBTI de modo geral. Agora, o Pride in London emitiu uma declaração oficial se desculpando pelo incidente.
O protesto
Um grupo de oito mulheres carregando cartazes com slogans tais como "trans-ativismo apaga as lésbicas" bloquearam a parada por cerca de 10 minutos. Elas gritavam coisas como "um homem que diz que é um lésbica é um estuprador".
Esse tipo específico de ativistas lésbicas é conhecido online como TERFs (ou Feministas Radicais Excludentes de Trans), apesar de frequentemente rejeitarem esse termo. Elas usam ideias de essencialismo de gênero para justificar o ódio e o fanatismo direcionado contra pessoas trans, especialmente as mulheres trans.
O pedido de desculpas do Pride in London
"Lamentamos", diz a declaração do Pride in London sobre o incidente.
"Ontem, um grupo de indivíduos rotulados como "Coloquem o L para fora!" [“Get The L Out!”], que não era um grupo registrado na parada, forçou passagem até a frente da parada para pisar na bandeira do arco-íris. O comportamento delas foi chocante e repugnante, e nós o condenamos completamente."
"Os membros da junta lésbica do Pride in London manifestaram claramente sua fúria contra o grupo não autorizado e nossas organizações como um todo condenam suas ações. O grupo manifestante mostrou um nível de fanatismo, ignorância e ódio que é inaceitável", continua a declaração.
"Rejeitamos o que esse grupo defende. Elas não compartilham nossos valores, que são sobre inclusão e respeito e apoio às partes mais marginalizadas de nossa comunidade."
"Temos orgulho de nossas voluntárias trans, orgulho dos grupos trans que estão em nossa parada, orgulho de nossas oradoras trans em eventos, orgulho de pessoas trans que tomam parte em nossas campanhas, e orgulho daqueles que os celebraram ainda mais alto ontem."
[Nota desse blogueiro: a palavra trans e os artigos que acompanham são neutras em inglês. Optei pelo feminino, porque a nota repudia um ataque dessas feministas radicais contra as mulheres trans, especificamente]
"Infelizmente, não pudemos remover o grupo à força, uma vez que o protesto delas não era criminoso. Elas exigiram marchar atrás da bandeira do arco-íris, que marca o começo oficial da nossa parada. Não permitimos isso, uma vez que não queríamos legitimá-las ou à sua mensagem", explica a declaração.
"Nós as movemos para uma área distante adiante do começo oficial da parada para as separarmos. Estamos investigando o que poderíamos ter feito diferente, caso algo assim aconteça de novo."
"Os participantes do Orgulho que estavam em Londres ontem nos disseram que as ações das oito pessoas não detiveram a alegria e o amor demonstrado pelas 30.000 pessoas que a acompanharam. Eles nos disseram que a torcida pelos nossos irmãos e irmãs trans foi ainda mais forte."
"Estamos perturbados pelas mensagens e feridos pelo que foi causado e realizamos uma reunião urgente com a Junta Consultiva Comunitária essa manhã. Também falamos com um número de indivíduos e grupos, incluindo ativistas trans e com o Stonewall."
"Como voluntários, estamos chocados e assustados por esse comportamento, principalmente porque alguns se sentiram ameaçados pelas manifestantes. Estamos tratando isso com extrema seriedade e revisaremos o que aconteceu junto com a prefeitura de Londres, a polícia metropolitana, a câmara de vereadores de Westminster, a secretaria de transportes, e continuamos consultando nossa Junta Consultiva Comunitária."
[Nota deste blogueiro: os nomes das instituições inglesas são originalmente os seguintes: Greater London Authority, Metropolitan Police, Westminster City Council, TfL , Community Advisory Board].
"Trabalharemos também com grupos que têm nos oferecido apoio, uma vez que esse problema precisa ser eliminado e faremos tudo o que pudermos para usar nossa plataforma para o bem."
"De novo, lamentamos que nossos irmãos e irmãs trans e seus aliados tenham sido afetados."
Algo mais?
Depois do incidente, um grupo de lésbicas produziu um vídeo condenando as ações das manifestantes.
Usando a hashtag #IStandWithTransPeople [#EuApoioPessoasTrans], lésbicas de todo o mundo saíram em apio às suas irmãs e a seus irmãos trans.
"Eu realmente preciso que minhas irmãs lésbicas cis levantem suas vozes e tomem uma posição sobre isso" Estou orgulhosa das Lésbicas Negras Socialistas, e aquelas mulheres e sua mensagem anti-trans não falam por mim!" #IStandWithTransPeople" - escreveu uma usuária do Twitter.
"Enojado com as manifestantes anti-trans tentado sequestrar a parada. Camaradas cis-lésbicas, por favor, manifestem-se! - outra mulher twittou.
Para quem ainda não entendeu no que consiste e de onde surge o
ataque dessas lésbicas feministas radicais contra mulheres trans em plena Parada do Orgulho LGBT de Londres (nota: elas também já dão sinais de sua presença no Brasil), o problema é o seguinte, basicamente:
Essas lésbicas feministas extremistas acreditam que uma mulher trans continua sendo um homem e que quando algumas delas se declaram lésbicas, elas são apenas um homem disfarçado. A lógica dessas extremistas é semelhante a do homem que transa com uma mulher trans ou travesti e depois diz que foi enganado, porque não sabia que era um homem disfarçado de mulher.
Tudo isso é fruto de concepções errôneas de que o gênero seja uma essência - biologizada, inclusive - e não uma construção que resulta de dinâmicas psicossociais complexas.
Claro que nenhuma mulher lésbica, homem heterossexual ou pessoas bissexuais em geral são 'obrigados' (sic) a gostar de mulher trans, seja ela operada ou não (já tem muita gente que gosta, felizmente), mas daí a quererem vituperar essas mulheres com base nessa estupidez, que é a cisnormatividade, isso é um absurdo que deve ser repudiado sem economia.
Essas extremistas lésbicas feministas também condenam os homens trans por causa desses mesmo tipo de essencialismo, só que dessa vez com uma elemento extra - o da traição do clubinho. Para essas extremistas, esses homens são mulheres que não valorizam sua essência feminina e aderem à dominação do macho e que tentam ser como eles.
Resumindo, essas extremistas feministas lésbicas acreditam que os procedimentos de transição são uma forma de adequação, algo como a "cura" (sic) para a lesbiandade ou para a homossexualidade por aderência ao gênero "oposto".
Além de demonstrarem profundo desconhecimento do que é gênero e orientação sexual, esses posicionamentos reafirmam o binarismo de gênero como norma - o que jaz na raiz da maioria dos problemas que as pessoas LGBT+ precisam enfrentar diariamente por tudo e por nada para sobreviverem e transitarem nas sociedades em que estão inseridas.
Repudio esse tipo de mentalidade e comportamento, especialmente quando invade e vitupera pessoas que não se conformam com ele.
O corpo não pertence a ninguém mais, exceto ao próprio indivíduo, que pode fazer dele o que bem entender e se expressar através dele como achar melhor, desde que isso não afete o mesmo direito em mais ninguém.
Traduzido por Sergio Viula
O sábado, dia 07 de julho, marcou a Parada do Orgulho LGBT oficial de Londres. Todavia, um grupo de manifestantes anti-trans bloqueou a rota da parada, causando tumulto entre a comunidade LGBTI de modo geral. Agora, o Pride in London emitiu uma declaração oficial se desculpando pelo incidente.
O protesto
Um grupo de oito mulheres carregando cartazes com slogans tais como "trans-ativismo apaga as lésbicas" bloquearam a parada por cerca de 10 minutos. Elas gritavam coisas como "um homem que diz que é um lésbica é um estuprador".
Esse tipo específico de ativistas lésbicas é conhecido online como TERFs (ou Feministas Radicais Excludentes de Trans), apesar de frequentemente rejeitarem esse termo. Elas usam ideias de essencialismo de gênero para justificar o ódio e o fanatismo direcionado contra pessoas trans, especialmente as mulheres trans.
O pedido de desculpas do Pride in London
"Lamentamos", diz a declaração do Pride in London sobre o incidente.
"Ontem, um grupo de indivíduos rotulados como "Coloquem o L para fora!" [“Get The L Out!”], que não era um grupo registrado na parada, forçou passagem até a frente da parada para pisar na bandeira do arco-íris. O comportamento delas foi chocante e repugnante, e nós o condenamos completamente."
"Os membros da junta lésbica do Pride in London manifestaram claramente sua fúria contra o grupo não autorizado e nossas organizações como um todo condenam suas ações. O grupo manifestante mostrou um nível de fanatismo, ignorância e ódio que é inaceitável", continua a declaração.
"Rejeitamos o que esse grupo defende. Elas não compartilham nossos valores, que são sobre inclusão e respeito e apoio às partes mais marginalizadas de nossa comunidade."
"Temos orgulho de nossas voluntárias trans, orgulho dos grupos trans que estão em nossa parada, orgulho de nossas oradoras trans em eventos, orgulho de pessoas trans que tomam parte em nossas campanhas, e orgulho daqueles que os celebraram ainda mais alto ontem."
[Nota desse blogueiro: a palavra trans e os artigos que acompanham são neutras em inglês. Optei pelo feminino, porque a nota repudia um ataque dessas feministas radicais contra as mulheres trans, especificamente]
"Infelizmente, não pudemos remover o grupo à força, uma vez que o protesto delas não era criminoso. Elas exigiram marchar atrás da bandeira do arco-íris, que marca o começo oficial da nossa parada. Não permitimos isso, uma vez que não queríamos legitimá-las ou à sua mensagem", explica a declaração.
"Nós as movemos para uma área distante adiante do começo oficial da parada para as separarmos. Estamos investigando o que poderíamos ter feito diferente, caso algo assim aconteça de novo."
"Os participantes do Orgulho que estavam em Londres ontem nos disseram que as ações das oito pessoas não detiveram a alegria e o amor demonstrado pelas 30.000 pessoas que a acompanharam. Eles nos disseram que a torcida pelos nossos irmãos e irmãs trans foi ainda mais forte."
"Estamos perturbados pelas mensagens e feridos pelo que foi causado e realizamos uma reunião urgente com a Junta Consultiva Comunitária essa manhã. Também falamos com um número de indivíduos e grupos, incluindo ativistas trans e com o Stonewall."
"Como voluntários, estamos chocados e assustados por esse comportamento, principalmente porque alguns se sentiram ameaçados pelas manifestantes. Estamos tratando isso com extrema seriedade e revisaremos o que aconteceu junto com a prefeitura de Londres, a polícia metropolitana, a câmara de vereadores de Westminster, a secretaria de transportes, e continuamos consultando nossa Junta Consultiva Comunitária."
[Nota deste blogueiro: os nomes das instituições inglesas são originalmente os seguintes: Greater London Authority, Metropolitan Police, Westminster City Council, TfL , Community Advisory Board].
"Trabalharemos também com grupos que têm nos oferecido apoio, uma vez que esse problema precisa ser eliminado e faremos tudo o que pudermos para usar nossa plataforma para o bem."
"De novo, lamentamos que nossos irmãos e irmãs trans e seus aliados tenham sido afetados."
Algo mais?
Depois do incidente, um grupo de lésbicas produziu um vídeo condenando as ações das manifestantes.
Usando a hashtag #IStandWithTransPeople [#EuApoioPessoasTrans], lésbicas de todo o mundo saíram em apio às suas irmãs e a seus irmãos trans.
"Eu realmente preciso que minhas irmãs lésbicas cis levantem suas vozes e tomem uma posição sobre isso" Estou orgulhosa das Lésbicas Negras Socialistas, e aquelas mulheres e sua mensagem anti-trans não falam por mim!" #IStandWithTransPeople" - escreveu uma usuária do Twitter.
"Enojado com as manifestantes anti-trans tentado sequestrar a parada. Camaradas cis-lésbicas, por favor, manifestem-se! - outra mulher twittou.
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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO
Para quem ainda não entendeu no que consiste e de onde surge o
ataque dessas lésbicas feministas radicais contra mulheres trans em plena Parada do Orgulho LGBT de Londres (nota: elas também já dão sinais de sua presença no Brasil), o problema é o seguinte, basicamente:
Essas lésbicas feministas extremistas acreditam que uma mulher trans continua sendo um homem e que quando algumas delas se declaram lésbicas, elas são apenas um homem disfarçado. A lógica dessas extremistas é semelhante a do homem que transa com uma mulher trans ou travesti e depois diz que foi enganado, porque não sabia que era um homem disfarçado de mulher.
Tudo isso é fruto de concepções errôneas de que o gênero seja uma essência - biologizada, inclusive - e não uma construção que resulta de dinâmicas psicossociais complexas.
Claro que nenhuma mulher lésbica, homem heterossexual ou pessoas bissexuais em geral são 'obrigados' (sic) a gostar de mulher trans, seja ela operada ou não (já tem muita gente que gosta, felizmente), mas daí a quererem vituperar essas mulheres com base nessa estupidez, que é a cisnormatividade, isso é um absurdo que deve ser repudiado sem economia.
Essas extremistas lésbicas feministas também condenam os homens trans por causa desses mesmo tipo de essencialismo, só que dessa vez com uma elemento extra - o da traição do clubinho. Para essas extremistas, esses homens são mulheres que não valorizam sua essência feminina e aderem à dominação do macho e que tentam ser como eles.
Resumindo, essas extremistas feministas lésbicas acreditam que os procedimentos de transição são uma forma de adequação, algo como a "cura" (sic) para a lesbiandade ou para a homossexualidade por aderência ao gênero "oposto".
Além de demonstrarem profundo desconhecimento do que é gênero e orientação sexual, esses posicionamentos reafirmam o binarismo de gênero como norma - o que jaz na raiz da maioria dos problemas que as pessoas LGBT+ precisam enfrentar diariamente por tudo e por nada para sobreviverem e transitarem nas sociedades em que estão inseridas.
Repudio esse tipo de mentalidade e comportamento, especialmente quando invade e vitupera pessoas que não se conformam com ele.
O corpo não pertence a ninguém mais, exceto ao próprio indivíduo, que pode fazer dele o que bem entender e se expressar através dele como achar melhor, desde que isso não afete o mesmo direito em mais ninguém.
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