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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

Hinduísmo e sexodiversidade

 





Hinduísmo e sexodiversidade

Por Sergio Viula

Originalmente publicado no AASA



As maneiras de ver a homossexualidade no hinduísmo variam de acordo com cada grupo. Apesar de alguns textos hindus apresentarem algum conteúdo contra a homossexualidade, um número de histórias míticas hindus representam a experiência homossexual como natural e alegre.

Existem vários templos hindus que possuem figuras esculpidas que retratam tanto homens como mulheres mantendo relações homossexuais. Tanto relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo quanto as variações de gênero foram representadas dentro do hinduísmo desde os tempos Védicos até hoje, seja em livros de leis, livros religiosos ou as assim chamadas narrativas míticas, comentários, pinturas e esculturas. Até que ponto essas representações abraçam ou rejeitam a homossexualidade tem sido objeto de disputa tanto dentro da religião como fora dela. Em 2009, o Concílio Hindu do Reino Unido (The United Kingdom Hindu Council) publicou uma declaração dizendo que “o Hinduísmo não condena a homossexualidade”, mas a Suprema Corte Indiana não seguiu essa linha de raciocínio, como você verá adiante.

Diferentemente do Ocidente, a sociedade hindu não tem tradicionalmente o conceito de “orientação sexual” que classifique os homens sobre a base de seu desejo. O que existe é um forte conceito de terceiro gênero, que é usado para descrever indivíduos que apresentam fortes elementos tanto de macho como de fêmea em si mesmos. De acordo com textos sânscritos como o Narada-smriti, o Sushruta Samhita, etc., esse terceiro sexo ou gênero inclui indivíduos convencionalmente denominadas homossexuais, transgêneros, bissexuais e intersexuais (LGBTI). O terceiro gênero é descrito em antigos textos Védicos como homens que têm uma natureza feminina, referindo-se a homens homossexuais ou que se identifiquem com o gênero feminino. O papel sexual ou de gênero das pessoas do terceiro gênero tem sido predominantemente associado com o fato de serem penetradas por homens, assim como o papel sexual e de gênero característico da masculinidade tem sido o de penetrar homens, mulheres e pessoas do terceiro gênero. Porém, o Kama Sutra claramente descreve os homens do terceiro gênero assumindo tanto identidades masculinas como femininas e desempenhando tanto papéis sexuais passivos como ativos.

O conceito hindu de homossexualidade busca quebrar essa distinção entre o terceiro gênero e os homens, e isolar a sexualidade entre homens do que seriam as pessoas do terceiro gênero, com todas as suas possíveis consequências negativas. Os homens indianos têm resistido longamente ao conceito de “gay”, mas têm sexo com homens sem se identificarem como “homossexuais”. Ativistas gays estão tentando introduzir um termo localmente aceitável para “homossexual” que seja tecnicamente difícil para os homens evitarem se eles fizerem sexo com homens. Mas essas tentativas têm falhado como se fossem apenas outro termo para “gay”. Nos últimos anos, porém, o conceito de “homossexualidade” finalmente lançou raízes. A definição moderna de LGBT consegue retratar com mais exatidão as crenças hindus antigas e não aquelas da era vitoriana.

O efeito colateral é que o desejo entre homens que era mais universal na Índia antes vai ficando cada vez mais isolado do ‘mainstream’, porque os homens estão se distanciando dele para evitar o estigma do “efeminado” ou do terceiro gênero associado à noção de “gay”.

Muitos intelectuais indianos e hindus apoiam publicamente os direitos civis LGBT. Alguns movimentos liberais de reforma hindu, especialmente no Ocidente, também apoiam a aceitação social de gays, lésbicas e outras minorias de gênero.

Comentando sobre a legislação a respeito da homossexualidade na Índia, Anil Bhanot, secretário geral do Concílio Hindu do Reino Unido disse: O ponto aqui é que a natureza homosexual é parte da lei natural de Deus; ela deve ser aceita pelo que é, nem mais nem menos. Os hindus são geralmente conservadores mas parece-me que na Índia antiga, eles até celebravam o sexo como uma parte desfrutável da procriação, onde sacerdotes eram convidados para cerimônias em suas casas para marcar o começo do processo. (http://news.rediff.com/report/2009/jul/03/hinduism-does-not-condemn-homosexuality.htm)

Legislação recente

Em 13 de dezembro de 2013, o Supremo Tribunal Indiano decidiu ratificar (manter) a criminalização da homossexualidade na Índia. Nota aqui.

Em 15 de abril de 2014, o Supremo Tribunal Indiano reconheceu a legitimidade do cidadão transexual indiano. Nota aqui.

Mahatma Gandhi: governo indiano comprou a coleção de missivas no ano passado na tentativa de ocultar o relacionamento homossexual do líder pacifista com o fisiculturista sul-africano Herman Kallenbach. Aqui.

Ser do terceiro gênero não é só alegria

O que se percebe é que a homofobia é muito mais um construto da mentalidade inglesa vitoriana que ficou impregnada na legislação indiana e na cultura popular do que fruto das tradições religiosas antigas. A transfobia não parece ser um grande problema, porque nesse ponto a cultura védica prevaleceu sobre a influência do dominador inglês.

De qualquer maneira, vê-se novamente como os discursos religiosos, especialmente do monoteísmo judaico-cristão no período de imperialismo britânico, assim como possivelmente a convivência com cristãos e muçulmanos nos últimos séculos conseguiram criar restrições às pessoas homoafetivas na Índia. A vida das pessoas transexuais também não é exatamente um mar de rosas.

Chamadas de Hijras (podem ter outros nomes, dependendo do dialeto), elas são mencionadas como um terceiro sexo e não podem agir como homens ou mulheres comuns. É muito comum que essas pessoas mantenham seus próprios quarteirões ou vizinhanas e desempenhem certas funções, tais como massagistas, cabelereiras, vendedoras de flores, empregadas domésticas, etc. São consideradas como semi-divinas. Alguns hindus acreditam que as pessoas do terceiro gênero ou do terceiro sexo têm poderes especiais que permitem que elas abençoem ou amaldiçoem os outros, mas essas crenças não são comuns a todas as divisões do hinduísmo. A maioria das pessoas do terceiro sexo/gênero não consegue realizar o simples sonho de casar e constituir uma família, mas o movimento LGBT indiano vai lutar para garantir esse e outros direitos básicos a esses seres humanos.


LINK: HIJRAS, O TERCEIRO SEXO:
http://www.dailymotion.com/video/xm6du4_hijras-o-terceiro-sexo_shortfilms


A cultura indiana na terra do Tio Sam

Nos Estados Unidos, uma indiana e uma americana casaram-se ao estilo indiano tradicional: Shannon e Seema uniram suas vidas no melhor estilo hindu. A história pode ser lida em português aqui (veja as fotos delas no início desse post):http://misteremister.com/shannon-seema-casamento-tradicional-indiano/

Tomara Shannon e Seema inspirem muitos indianos e indianas LGBT no mundo todo!

E que as pessoas aprendam a viver sem buscar a chancela dos deuses para viverem suas identidades e seus amores, mesmo que seja um dos 330 milhões de deuses hindus.

“Fé é imaginação carregada de afetividade. O problema é que depender do divino é como se agarrar a uma corda amarrada a um rocha imaginária: a imaginação é a corda, mas o divino não está lá.” (Sergio Viula)


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Leia Em Busca de Mim Mesmo - a jornada de um homem rumo a sua emancipação sexual.

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