
Travesti, indígena, jovem, vítima de violência e silenciada de forma brutal: Shakira, de apenas 23 anos, foi encontrada morta no último domingo (6) às margens do rio Grajaú, no interior do Maranhão. O corpo boiava na região do Limoeiro e foi resgatado sem sinais visíveis de violência. A perícia indicou afogamento como causa da morte.
Shakira era moradora da Aldeia Cocal, no município de Grajaú, e sua história já carregava marcas profundas de exclusão e crueldade. Em 2023, no Dia dos Povos Indígenas, ela foi espancada e estuprada ao sair de uma festa na Aldeia Formigueiro, dentro da terra Indígena Morro Branco. O suspeito — também indígena — foi preso na época. Mas a ferida ficou.
Agora, sua morte lança novas perguntas. A Polícia Civil investiga o caso para entender as circunstâncias do afogamento. A comunidade LGBTQIAPN+ indígena e aliada exige respostas — e, acima de tudo, respeito.
Shakira não é um número. Não é só uma estatística em mais uma planilha de mortes evitáveis. Ela era filha, amiga, artista. Tinha um nome — escolhido, afirmado, vivido. E como tantas travestis e mulheres trans no Brasil, especialmente as que vivem nas margens sociais e geográficas, Shakira encontrou um país onde ser quem se é pode significar caminhar diariamente com a morte ao lado.
O Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo. E quando interseções como identidade de gênero, etnia, classe social e território se cruzam, a vulnerabilidade se multiplica. Travestis indígenas enfrentam o preconceito tanto fora quanto dentro de suas próprias comunidades. É a opressão em dobro, em triplo.
Não basta dizer "luto". Precisamos exigir justiça. Precisamos escutar as vozes das travestis indígenas que estão vivas — e garantir que continuem vivas.
A morte de Shakira nos chama à responsabilidade. A pergunta que fica é: o que estamos fazendo, como sociedade, para impedir que mais uma Shakira se vá?
Shakira, presente! Hoje e sempre.
O povo Guajajara, um dos maiores grupos indígenas do Brasil, com presença significativa no Maranhão, tem vivenciado, nos últimos anos, um processo importante de reconhecimento, resistência e acolhimento da diversidade sexual e de gênero — ainda que isso nem sempre aconteça de forma uniforme ou sem conflitos, como ocorre em qualquer sociedade.
1. Diversidade entre os povos indígenas
Tradicionalmente, muitos povos indígenas das Américas reconheciam e respeitavam a existência de pessoas com identidades de gênero diversas, antes da colonização europeia impor a moral cristã e a ideia binária de gênero. Há registros históricos e etnográficos de pessoas com papéis sociais específicos por não se enquadrarem nas normas de gênero ocidentais.
Entre os Guajajara, como em outras comunidades indígenas brasileiras, essa diversidade existe e vem ganhando mais visibilidade nas últimas décadas, especialmente com a articulação de lideranças indígenas LGBTQIAPN+.
2. Lideranças Guajajara LGBTQIAPN+
Nos últimos anos, nomes como Krytyka Tyjy Guajajara, uma travesti indígena ativista, e Ubiratã Guajajara, um homem gay e defensor dos direitos indígenas e ambientais, têm sido vozes importantes no debate sobre interseccionalidade entre etnicidade, sexualidade e identidade de gênero.
Essas lideranças denunciam não apenas a homofobia e a transfobia vindas da sociedade envolvente, mas também os desafios dentro das próprias aldeias, onde ainda há resistência por parte de alguns membros das comunidades, muitas vezes influenciados por religiões cristãs que se espalharam nas terras indígenas.
3. Resistência e afirmação
Apesar das dificuldades, há um movimento crescente de afirmação. Jovens indígenas Guajajara LGBTQIAPN+ estão reivindicando espaços, reconstruindo laços com seus povos e descolonizando os próprios corpos e afetos. Isso se reflete em rituais, músicas, arte, grafismos, e na luta política por direitos, território e reconhecimento.
4. Importância da coletividade
Mesmo com os conflitos, a comunidade é central para o modo de vida Guajajara, e isso também pode ser um ponto de apoio para a construção de espaços mais inclusivos dentro das aldeias. O debate sobre diversidade sexual e de gênero entre os Guajajara não é apenas uma questão individual, mas faz parte da luta coletiva por um futuro indígena mais justo, livre e diverso.
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