O Terceiro Travesseiro: Minhas Impressões
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Li o romance O Terceiro Travesseiro.
De Nelson Luiz de Carvalho
Achei os conflitos bastante realistas, apesar de não serem sempre os mesmos e na mesma intensidade para cada pessoa no mundo da vida. Parece-me que o autor baseou a história em fatos reais, apesar de não se tratar de um biografia. É um romance.
A hipocrisia da família, as dificuldades dos pais quanto à aceitação, o desejo muito aflorado da adolescência são coisas que encontram muita verossimilhança, mas acredito que o final reflita o modo de escrever de uma época que felizmente começa a ficar no passado.
Finais infelizes caracterizaram a literatura com tema gay durante muito tempo, aparentemente refletindo os preconceitos da sociedade em que estava inserida. Houve exceções, é claro. Nas obras de Wilde, por exemplo, o preconceito era evocado para ser despido e ridicularizado em praça pública através da refinada, porém ácida, ironia do gênio irlandês que é o romancista mais conhecido da Inglaterra - outra ironia, só que desta vez involuntária, produzida pelo autor de obras como “o Retrato de Dorian Grey”.
Em O Terceiro Travesseiro, porém, o autor parece tentar domar a ventania que atingiu os pais dos protagonistas, matando um dos personagens, enquanto o outro parece virar um zumbi existencial por causa da perda.
No começo da leitura, eu fui me enchendo de esperança de ver um grand finale. Contudo, terminei vendo apenas sonhos desfeitos. Claro que a vida tem disso. Óbvio que todo dia muita gente vê seus esforços darem em nada. A morte nos ronda a todos e muitas vezes é precipitada pelo ambiente em que vivemos. Porém, sendo um romance juvenil, com linguagem adolescente, apelando principalmente a essa faixa etária, o enredo poderia ter apresentado modelos positivos, em vez de reforçar o estigma ou a sensação de que não dá para ser feliz sendo gay ou bissexual – dois conceitos que se misturam na trama.
A não reação dos personagens frente a várias imposições e violências, sempre buscando o caminho da fuga, do escondido, do não dito, parece demonstrar uma condição de "culpa" destinada a permanecer colada aos mesmos – o que não contribui para a emancipação de adolescentes e jovens que estão se descobrindo como seres sexuados e que se sentem atraídos por outros do mesmo gênero. Além disso, os personagens deram a sorte de ter dinheiro para manter tanta coisa escondida por tanto tempo, com a conivência sempre culpada dos pais. Essa condição financeira, infelizmente, a maioria dos adolescentes não tem, aumentando a sensação de que não posso ser feliz se não tiver condições para bancar alguns luxos. Só que, na verdade, posso! ;)
De qualquer modo, o escritor, sendo um artista, deve ser livre para criar, independentemente da apreciação ou rejeição que sua obra venha a experimentar, pois a arte só é livre porque livres são os artistas. Mas será que a arte não poderia ser livre dos preconceitos vigentes, colaborando para que os homens medianos ou mesmo os geniais transcendessem o status quo?
É inegável que o romance vendeu muito, tendo sido reeditado várias vezes, inclusive, mas isso me leva a pensar em quanto benefício ele poderia ter produzido se apenas encontrasse um final alternativo, um que não fosse apenas o reforço da ideia de que "o salário do pecado é a morte". E aqui faço um adendo: O único salário que o conceito fabricado de pecado garante é o do clérigo, seja ele de onde for.
Apesar das minhas ressalvas aqui, foi bom finalmente conhecer O Terceiro Travesseiro. De fato, houve momentos em que até dei risadas sozinho por causa de algumas tiradas dos adolescentes. E vale dizer que os personagens parecem gozar mais do que respirar. É porra para todo lado. Para quem já pensa que gay só pensa em sexo, eis um reforço. Se bem que é verdade que adolescentes de qualquer orientação sexual geralmente pensam mais em sexo do que a maioria dos mais velhos.
Bem, espero que o autor não fique bravo comigo. Não sou portador de nenhuma verdade final. E penso que todos nós devíamos ler de tudo, até mesmo aquilo de que discordamos, porque essa é a melhor maneira de aprofundarmos nossas reflexões, aumentarmos nosso cabedal cultural e pensarmos fora de nossas próprias caixinhas intelectuais. E é exatamente isso que procuro fazer.
Agradeço à minha querida Rosana Martinelli por ter me presenteado com um exemplar de O Terceiro Travesseiro. Você poderá adquirir o seu aqui:
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Um livro que sempre recomendo para adolescentes e jovens é O AMOR NÃO ESCOLHE SEXO, de Giselda Laporta Nicodelis. Esse, meus filhos leram quando eram adolescentes e amaram. Uma obra que desmistifica as orientações sexuais e encanta ao mesmo tempo.
Um livro que sempre recomendo para adolescentes e jovens é O AMOR NÃO ESCOLHE SEXO, de Giselda Laporta Nicodelis. Esse, meus filhos leram quando eram adolescentes e amaram. Uma obra que desmistifica as orientações sexuais e encanta ao mesmo tempo.
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Sergio, muito boas as tuas considerações. Faço elas minhas. Acho compreensível o final como retrato do momento em que foi escrito e das possibilidades ~mais aceitáveis ~ de então. Entretanto, cada vez menos consigo ver a literatura como algo descolado de seu papel político; justamente por isso, partilho da dor de encontrar um livro com tanta repercussão que apenas dê continuidade a narrativas culpadas e com final triste para sujeitos homossexuais.
ResponderExcluirCaramba, Tales, fiquei super orgulhoso em receber um comentário seu. Obrigado por ter lido minha singela resenha e por compreender os dois lados da moeda: a questão do contexto em que foi escrito e da possibilidade (perdida) de transcendê-lo.
ExcluirUm forte abraço, querido.
Um texto que soma o primeiro livro com temática LGBT que li e a tua escrita, que admiro muito, só poderia ser lido e comentado. :)
ExcluirTales, você é uma das pessoas mais gentis que já conheci. Muito obrigado. Nunca perca essa característica tão rara no mundo atual. Super abraço. ^^
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