
Existe uma frase bíblica que os crentes adoram repetir: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus". Bem, eu tenho experimentado algo bem diferente: "O FASTIO vem pelo ouvir, especialmente as palavras dos crentes..."
Digo isso porque praticamente não existe um dia em que eu não tenha que aturar alguma pregação religiosa. A mais recente foi a de uma ex-professora minha do seminário teológico. Sim, porque este ateu aqui já estudou teologia... kkkk. A professora, cujo nome prefiro preservar, foi minha professora de filosofia — mas não se precipitem... filosofia no seminário teológico é a dogmática cristã tentando se fazer respeitável.
Eu estava sentado e o ônibus enchendo. Ela entrou e ficou no meio do corredor. Não podia evitar convidá-la para sentar no meu lugar. Isso por uma questão de pura etiqueta. Se fosse uma pessoa desconhecida, sinceramente, não faria isso. Mas ela foi minha professora. Eu cheguei a conviver muito próximo dela, porque, depois de formado, fiz duas pós e me tornei professor da mesma instituição teológica. Mas agora estávamos em posições bem diferentes: ela, crente, tentando fazer tudo convergir para a fé em Deus; e eu, ateu, sem dar a mínima para supostas divindades povoando a imaginação ingênua dos bobos ou abastecendo a hipocrisia dos mentirosos. Sim, porque eu não consigo pensar em outra via: ou o cara crê por ingenuidade, ou diz que crê, apesar de saber que não é verdade — o que configura hipocrisia.
Bem, a ex-professora não contava com a minha astúcia. kkk. Não puxei assunto religioso em momento algum. Nem sequer perguntei por pessoas da igreja ou do seminário, exceto a família dela. Mesmo assim, a língua do crente não consegue se manter quieta na boca. Ele tem que falar em nome de seu deus. Ele quer ser profeta. E foi assim que a minha ex-professora fez igual à maioria esmagadora dos crentes que eu conheço.
Ela começou a falar, falar e me perguntar o que eu achava, se eu não concordava etc. Quem me conhece sabe que eu procuro evitar esse tipo de conversa, seja com aqueles que conheço há muito tempo ou com quem acabei de conhecer. Por outro lado, depois que a pessoa já foi longe demais, ela mesma se arrepende de ter puxado a conversa, fica totalmente confusa com o que eu passo a dizer e não acredita nos próprios ouvidos. Fica estarrecida com o contraste entre o que sabia de mim e o que ouve agora.
Mas tudo isso causa fastio mais cedo ou mais tarde. Eu já ando enfastiado disso há muito tempo. Seria mais fácil mandar os pregadores tomarem no cú, mas isso seria bom demais pra eles — e não seria polido aos ouvidos dos que ficam em volta, ligados na conversa alheia. Então, para não perder a razão, eu acabo não mandando... kkk
Ela ficava sempre reafirmando a importância da fé, e eu sempre demonstrando a absoluta falta de necessidade de fé em divindades ou mundos pós-morte. Por fim, disse a ela que preferia zilhões de vezes ser responsável pela minha própria vida a atribuir essa responsabilidade a deuses ou líderes supostamente ungidos por ele. Fechei a conversa dizendo que tem gente pensando que está sobre uma rocha quando está, de fato, sobre uma tartaruga — e nem percebe que está a caminho de um belo afogamento no mar. Iludem-se com uma segurança que não existe, não pelo menos onde a estão procurando. Ou, usando outra metáfora: no desespero por se agarrar em alguma coisa, tem gente se amarrando a toras à deriva e tentando convencer-se de que estão presos à mais segura das estacas.
Cada vez que isso me acontece, fico enfastiado dessa conversa circular, vazia, despropositada e inútil. Por outro lado, fico feliz por não ser esse o meu discurso. A própria falta de qualquer discurso pode ser melhor do que toda essa balela cristã.
Falei... ;)
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