Vigários sinceros e outros não tão sinceros vigaristas
Vigários sinceros e outros não tão sinceros vigaristas
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É impressionante como os temas relacionados ao comportamento e à identidade individualizada dos seres humanos esbarra sempre nos mesmos pontos, não importando o tempo.
Esses dias - por uma daquelas coincidências gostosas que a vida traz - encontrei uma edição da revista Newsweek de 06 de maio de 2002, na qual o tema da homossexualidade, do celibato, da mulher no sacerdócio e da heterossexualidade dos padres foi encarado de forma corajosa e desprovida de máscaras e preconceitos pela equipe de jornalistas. Em oito preciosas páginas a revista encarou os fatores que denunciam a estupidez do celibato obrigatório, da repressão tanto à homossexualidade como às relações heterossexuais por parte dos sacerdotes, bem como os escândalos de pedofilia praticada por padres de ambas as orientações sexuais.
A matéria é inaugurada com um comentário sobre as conversas entre os bispos romanos e os prelados americanos a respeito dos casos - então predominantes na mídia e nos tribunais - envolvendo padres pedófilos. O que chama a atenção é que de repente todos os casos de pedofilia se concentraram numa caçadas aos padres homossexuais. É óbvio que todos devemos nos opor à pedofilia, seja ela homo ou heterossexual, mas o Bispo Wilton Gregory - entrevistado pelos jornalistas - parecia saber a causa do problema: "Esta é uma luta contínua. É principalmente uma luta para nos certificar de que o sacerdócio católico não esteja dominado por homens homossexuais." Pensando saber a causa da pedofilia, o Bispo demonstra sequer entender a sexualidade humana em seu sentido mais amplo. Ele arbitrariamente transferiu o foco da questão de sobre um crime para colocá-lo sobre uma característica natural de milhões de seres humanos que nada têm a ver com o comportamento doentio de quem abusa de crianças.
Ora, é óbvio que qualquer caso de pedofilia comprovada deve ser punido judicialmente com rigor - sem falar que o melhor é criar mecanismos para evitá-los. Mas a igreja sempre encobriu tais casos. Principalmente, quando o crime de pedofilia era praticado por padres heterossexuais. Agora, estrategicamente a igreja concentra a "causa" do problema na homossexualidade, obviamente, para deflagrar uma caçada às bruxas repaginada.
O problema é que essa atitude ridiculamente simplista e iníqua ignora gente como um padre - irmão de sacerdócio do Bispo Gregory - que é um dos milhares de bons e fiéis clérigos que vêm a ser homossexuais. Esse homem faz suas orações, celebra duas missas, aconselha pessoas, e disse a Newsweek: "Sou gay, mas essa não é a única coisa que eu sou. Então sou gay, e o padre ali adiante é polonês - e daí? O que importa é que sou fiel, criativo e devotado a Deus." Mas ele tem motivos para temer uma caça às bruxas,uma vez que clérigos como o Bispo Gregory pensam: "A igreja está de fato dizendo: 'Se você parar de ordenar gays, você vai acabar com o abuso sexual." Ao invés de iniciar um diálogo sério e sem preconceitos sobre a sexualidade de um modo mais amplo, principalmente depois de tanta sordidez nessa área em toda a história da igreja - e mais amplamente divulgado em tempos recentes - a igreja declara tolerância zero, mas se esquece de que o confessionário tem sido o palco para as mais diversas demonstrações de libido entre padres e mulheres, principalmente.
Para tratar do futuro do celibato clerical, do lugar da mulher no sacerdócio e do papel dos homossexuais no ministério, a igreja precisa enxergar seu tempo atual com suas próprias luzes e explorar as nuances de interpretação bíblica e histórica sugeridas por alguns dos setores do cristianismo. Mark D. Jordan, um professor de religião e um gay católico afirma que "se não houvesse homossexuais no sacerdócio, logo deixaríamos de ter uma igreja funcionando."
Muitos católicos vêem com bons olhos a ordenação de padres gays ou a permanência dos que já são padres, mesmo depois de assumirem publicamente sua identidade sexual. "O que me interessa é o bom padre, e eu não penso que um bom padre seja determinado de maneira alguma pela sexualidade dele ou dela." - diz Louis P. Vitullo, 57, um advogado de Chicago educado em escolas católicas e frequentador da igreja. "A pessoa é bem equilibrada? A pessoa pode atender às necessidades das pessoas às quais ela destina seus serviços sacerdotais? E, mais basicamente, são pessoas em quem podemos confiar?"
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