Brasil cala-se diante de atitudes discriminatórias
da Rússia nos Jogos de Sochi
30/09/13 - 13:30
POR VITOR ANGELO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin,
recebe a presidente Dilma Rousseff
durante encontro no Kremlin,
em Moscou em 14.dez.2012
Foto por Roberto Stuckert Filho/Presidência da República
O governo brasileiro se calou e ratificou junto com a Rússia o veto a uma referência aos LGBTs que ativistas dos direitos humanos queriam colocar como uma das cláusulas nos Jogos Olímpicos feita pela ONU. Os russos irão sediar as competições de inverno, em fevereiro de 2014, em Sochi, e os jogos já são alvos de polêmicas.
Para quem não sabe, a Rússia tem uma lei que criminaliza quem promove a homossexualidade, isto é, falar a palavra gay é crime lá e gangues de mafiosos e neonazis têm literalmente caçado e torturado homossexuais com a conivência da polícia e do governo Putin. A situação tem criado muita revolta e protestos no mundo civilizado. Muitos atletas (gays e héteros) ameaçam com boicote esta Olimpíadas e existe uma movimentação forte dos grupos dos direitos humanos para proteger atletas LGBTs naquele país durante os jogos. O COI e até a Fifa estão pressionando o presidente Vladimir Putin para que a lei anti-gay, como ficou conhecida mundialmente, seja derrubada.
Esta é uma das formas de cercear esta clara violação dos direitos humanos: a chamada pressão internacional. E ela tentou marcar presença no texto que foi aprovado na última quinta-feira, 26. Esperava-se (países europeus e ONGs LGBTs) que o Brasil, co-autor do texto, pressionasse para que fosse incluído um parágrafo contra a discriminação pela orientação sexual. Mesmo pressionado, o país calou-se. Quem acabou levantando a questão foi a Noruega, mas sem a força necessária de contestação como seria se o aval tivesse partido de nosso país. No fim do debate, acordou-se que uma referência a “todas as formas de discriminação” (que foi incluída no texto) abarcaria os gays.
É verdade que, em alguns poucos e esparsos discursos, o governo de Dilma Rousseff já disse ser contra o preconceito contra orientação sexual. Sabemos que na prática, ela tem vetado sistematicamente políticas afirmativas para os LGBTs. Do projeto Escola Sem Homofobia à propaganda de prevenção contra o HIV-Aids com casais do mesmo sexo, ela é implacável em negar cidadania justa para gays, lésbicas, transexuais e bissexuais. Calar-se diante da situação russa, foi mais uma forma de concordar com políticas discriminatórias que – tanto Rússia, em um grau elevadíssimo como o Executivo e o Legislativo brasileiro em outro patamar – já vem praticando faz anos.
Se a covardia e o despreparo do governo Dilma para as questões dos direitos humanos nos desanima (entidades dos direitos de negros, índios, mulheres continuam insatisfeitos com suas negligências e omissões), existe um movimento de indivíduos (gays e héteros) que questionam o que está acontecendo na Rússia e – pela forma virtual – tentam mostrar sua indignação mandando mensagens ao presidente do comitê olímpico, Thomas Bach.
De qualquer forma, é lamentável o que acontece na Rússia. Um texto superficial aprovado um dia depois que um dos maiores opositores da política anti-gay russa, Alexey Davydov, morreu. O ativista faleceu na quarta-feira, 25, uma grande perda, mas pelo menos foi poupado de tanta obscuridade. Há algo de podre do reino dos czares e o cheiro chegou no nosso país.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebe a presidente Dilma Rousseff durante encontro no Kremlin, em Moscou em 14.dez.2012 – Roberto Stuckert Filho/Presidência da República
https://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/30/brasil-cala-se-e-ratifica-atitudes-discriminatorias-em-jogos-na-russia/
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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO
A presidenta do Brasil comete mais uma injustiça contra os LGBT - como se já não bastasse a infeliz declaração sobre o veto ao projeto Escola sem Homofobia, de que o governo não fará propaganda de 'opção sexual' (sic), discurso muito semelhante ao do Putin agora. Em sua visita à Rússia, a presidenta endossa, pelo silêncio absoluto, o que vem sendo feito contra os LGBT da Rússia.
Enquanto Obama, além de outras autoridades europeias, tomou uma posição de contrariedade à campanha homo-transfóbica promovida pelo governo russo, inclusive reunindo-se com ativistas LGBT naquele país, nossa presidenta Dilma Rousseff, que sempre gosta de bancar a defensora dos direitos humanos e posar como porta-voz dos que se sentem violados em sua privacidade (vide discurso dela sobre a espionagem americana durante encontro na ONU recentemente), fez cara de estátua para o sofrimento dos cidadãos LGBT na Rússia, a despeito de toda a polêmica criada pela insistência do COI (Comitê Olímpico Internacional) em manter os Jogos de Inverno em Sochi, quando poderiam tê-los transferido tranquilamente para o Canadá ou outro país que se conformasse aos princípios que o próprio COI estabelece como fundamentais para que um país hospede uma Olimpíada, entre eles o de não-discriminação de grupos ou indivíduos.
Mais uma vez, Dilma Rousseff demonstra sua homo-transfobia internalizada. Ele fica novamente associada aos que odeiam a diversidade no exterior, não bastassem os conchavos com fundamentalistas homo-transfóbicos no Brasil.
Sinto vergonha desse governo.
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