Quanto mais
turbado, mais gozado.
A crônica da turbina.
Por Sergio Viula
Uma história real com alguns insights sapecas. ^^
Era dia 31
de maio de 2014. Celso Masotti me esperava em São Paulo para a gravação de um
piloto de programa para TV. Inacreditavelmente, tudo correu bem e o embarque no
portão 22 do Aeroporto Tom Jobim foi iniciado pontualmente. Adoro o número 22:
São algarismos iguais, um atrás do outro, e fazem lembrar dois gansos na lagoa,
doidos para dar um mergulho de cabeça.
Pois bem,
minha poltrona era a 8F, um assento na janela bem ao lado da turbina. Como era
grande! Aliás, turbinas são para o avião o que os mecanismos de ereção são para
o pênis. E foi graças a elas que o mais fálico dos meios de transporte decolou pontualmente,
penetrando obstinadamente o passivo espaço aéreo, mais azul do que nunca
naquele dia. Tudo isso depois de fazer algumas manobras preliminares e de encaixar
seu corpo longilíneo e viril na reta final da pista de decolagem.
Mas, como
todo coito surpreendido pela perda de potência logo depois da penetração, uma
turbina foi broxar logo depois da decolagem, provocando constrangimento geral. A
explicação era simples, mas não permitia a velha desculpa “isso nunca me
aconteceu antes”. Um pássaro – provavelmente um urubu, uma vez que o aeroporto
Tom Jobim parece mais um viveiro a céu aberto dessas estranhas criaturas –
colidiu com a turbina da direita, exatamente aquela que se exibia para mim pela
janela. E eu num voyeurismo atrasado, porque não consegui sequer enxergar a ave
sendo aspirada pela voraz turbina, só pude perceber que algo não estava
funcionando como o esperado.
O que me
chamou a atenção foi um barulho de motor como de um caminhão enguiçando. Tá,
tá, tá, tá, tá... E pronto, foi o suficiente para o broxamento daquela máquina
de rasgar céus. Em seguida, a redução da velocidade e a impossibilidade de
continuar subindo indicavam que o prazer de uma viagem boa para todos os
envolvidos nessa suruba aérea não seria alcançado. Além disso, teríamos que
adiar o gozo da chegada em Congonhas. Isso,
caso sobrevivêssemos para tentar de novo.
Só depois
do aviso pelo alto-falante da cabine de comando, explicando o ocorrido e
anunciando a tentativa de retornar ao Galeão para reparo e troca de aeronave, é
que o silêncio tenso dos passageiros foi quebrado por comentários desconexos
carregados de preocupação e ansiedade aqui e ali. Enquanto isso, eu só pensava
que se o avião caísse de vez, eu não sentiria nada, e que meus filhos já tinham
o necessário para seguir em frente com a vida. Nenhuma outra coisa passou pela
minha cabeça.
Na verdade,
ver aquele povo turbado pelo que aconteceu foi deveras engraçado. Confesso que
sou do tipo que pensa que quanto mais turbado, mais gozado. E isso ainda serviu
para me proporcionar o que poderia ter sido minha última risada na cara de
bunda que a vida faz de vez em quando.
Porém, graças
às habilidades manuais do piloto, num lindo cinco contra um no manche, o pesado
equipamento chegou ao solo. A foda frustrada pela ave estraga-prazeres
felizmente não acabou em morte. Outra deliciosa vitória de Eros sobre Tânatos.
Os
passageiros agindo como espermatozoides ansiosos para serem arremessados para
fora daquele pênis de aço, alinharam-se no corredor, preparados para a
ejaculação, só que dessa vez no solo, no melhor estilo coito interrompido. Já
eu, sabendo que não adiantava me apressar, continuei sentado, enviando minha
primeira mensagem via Facebook depois do ocorrido:
Ser ateu é... manter a calma quando seu avião
entra em apuros por colidir com um pássaro na turbina ao lado do seu assento. E
vc nem pensa em pedir ajuda a qualquer divindade já imaginada. Voltamos sãos e
salvos graças à perícia do piloto da TAM.
Os
apressados espermatoupeiras ficaram
esperando na fila por vários minutos, enquanto eu, confortavelmente recostado
na minha poltrona, ria discretamente da patética condição humana e de seu
comportamento afetado e previsível diante de situações-limite como a que
havíamos acabado de experimentar.
Trocamos de
aeronave como quem troca de pau num ménage à trois. O aerobroxa que
costumava rasgar céus nada virgens ficaria novo em folha depois de alguns
reparos. Quanto à viagem, a segunda foi melhor do que a primeira, ao contrário
do que costuma acontecer nas mais frequentadas alcovas do mundo. E depois de um
prolongamento de duas horas e meia, atingimos o clímax da chegada ao aeroporto
de Congonhas onde fomos ejaculados pela segunda vez, só que agora do lado de dentro e com tudo o que tem
direito.
Pensando bem faltou uma coisa: beijo na boca. Do piloto, é claro.
Muito bommmm!
ResponderExcluirAdorei!
:)
Essa cabecinha aqui não para... refiro-me principalmente à de cima. hehehehehe Abração, super Celso!
ExcluirInspirado...né?
ResponderExcluirNada como quase morrer para renovar a criatividade. hehehehe Abração, Cosme!!!
ExcluirAdorei. O texto é muito bom e criativo. Só você para viver uma situação para a maioria das pessoas desesperadora e conseguir associar a experiência a uma penetração interrompida. Moleque sapeca?
ResponderExcluirKkkkk Viver e não ter a vergonha de ser feliz, como diz a canção popular. Beijos, Katita.
ExcluirCom certeza, brother. Bjs.
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