Fotógrafa capta imagens de muçulmanos gays e muçulmanas lésbicas

El-Farouk (esquerda) e seu marido Troy - Toronto



Com informações da CNN
http://edition.cnn.com/2016/06/16/living/cnnphotos-gay-muslims/index.html
Traduzido e adaptado por Sergio Viula


A fotógrafa Lia Darjes passou algum tempo fotografando El-Farouk e seu marido, Troy, em seu quarto lilás em Toronto, Canadá. Os homens, ambos muçulmanos, convivem com seu gato preto envoltos numa confortável aura doméstica.

Mas, El-Farouk não nutre ilusões: "Eu poderia lhe dizer onde estou agora e pareceria ser um lugar bastante feliz, mas a jornada até esse lugar não foi fácil."

Ele contou à fotógrafa que muitos como ele já sofreram "violência espiritual, quando você ouve que há algo profundamente errado com você."

"Como resultado, muitas pessoas queer acabam deixando a religião ou pulando fora da religião ou mantendo um relacionamento não saudável com a religião."


Fotógrafa Lia Darjes


Em Paris, Lia Darjes, a fotógrafa que captou as imagens dessas pessoas queer e muçulmanas, passou algum tempo com Ludovic-Mohamed Zahed, um imã assumidamente gay que abriu a primeira mesquita simpatizante aos homossexuais na cidade.

"As reações foram bastante veementes" - disse-lhe ele. "Ser muçulmano, árabe e gay e, portanto, membro de vários grupos minoritários abriu meus olhos: As minorias estão sendo discriminadas, particularmente em tempo de crise econômica. Nós temos que saber mais sobre o Islã e temos que entender quem somos realmente para combatermos a homofobia."

Foi nas reuniões de oração que Darjes conheceu uma mulher muçulmana que estava pela primeira vez, desde que havia se assumido, frequentando a reunião de oração sem se sentir culpada. De acordo com Darjes, a mulher estava "se sentindo aliviada em estar na comunidade de novo."

Nos Estados Unidos, apesar de não ter encontrado eventos e perceber que as pessoas são extremamente fechadas, ela acabou conhecendo um homem gay e imã, Daayiee Abdullah, que já tinha sido da Igreja Batista do Sul dos Estados Unidos e se tornou muçulmano quando estudou o Corão em Pequim. Ele abriu uma mesquita gay em Washington.

Abdullah disse a Darjes: "Como um imã inclusivo que também é gay, eu entendo o conflito dos muçulmanos homossexuais. Quando eu me converti ao Islã há 34 anos, eu não falava árabe ainda. Estava estudando na Universidade de Pequim, e o primeiro Corão que eu li foi em mandarim. Foi uma bênção para mim. Conhecer o islã no Oriente Próximo e no Ocidente, e viver lá para continuar formando minha compreensão de que o Islã não é monolítico, foi necessário."

"Não é apenas um religião ou crença; é também uma formulação que depende da cultura onde entra. Alá demonstra que existe uma grande diversidade já na criação. A questão é: Nós respeitamos isso?"

Em países como o Irã, por exemplo, homossexuais são punidos com a pena de morte, inclusive enforcamentos em praça pública. Samira é uma mulher iraniana. Ela diz o seguinte:

"Eu vim de um país onde ser gay é punível com a morte. Em 1979, quando a Revolução Islâmica começou, minha família imigrou para o Canadá, onde eu cresci bastante secular."

Darjes disse que as comunidades LGBT com as quais ela trabalhou eram "muito positivas" e mais ousadas do que nunca.

"Eu raramente tive a sensação de que estava indo trabalhar com pessoas traumatizadas" - disse ela. "Você tem uma sensação de que chegou a algo, que eles encontraram algo bom nessas associações e reuniões."


Lia Darjes é uma fotógrafa que mora e trabalha na Alemanha. Ela é representada por Picturetank. 



Sara - Nova York



Saadiyi: "Ser queer e muçulmana significa para mim que eu posso ser quem Deus queria que eu fosse."



Samira, iraniana e lésbica vivendo no Canadá




Um casal de mulheres se abraça em London. Elas não quiseram autorizar a publicação de seus nomes.




Daayiee Abdullah - Washington




Shahbaz - Los Angeles




Joey - Los Angeles. Ele era ateu e se converteu ao islamismo por causa da leitura de um livro de ficção que tematizava punk e islamismo.




Jason - Los Angeles


-----------------------------------------


COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Pessoalmente, nutro a crença de que o islamismo que essas pessoas LBGT praticam está passando pelo mesmo fenômeno de secularização que o cristianismo e o judaísmo têm passado: Por séculos, foram extremamente separatistas, discriminadores, perseguidores, tendo assassinado muita gente inocente que não se submetia plenamente a seus ditames. Existe no Corão árabe, assim como na Torá judaica e na Bíblia judaico-cristã material suficiente para se colocar fogo em cidades inteiras, para se destruir crianças e velhos, para se apedrejar mulheres, LGBT, praticantes de outras religiões, etc. O que impede que essa barbárie tome conta de todos os ambientes em que esses textos circulam é que eles não são as únicas ou mais poderosas vozes ouvidas ali. Existem outras: a da secularização, das ciências da natureza, das tecnologias e das ciências humanas.

A tranquilidade que esses muçulmanos LGBT demonstram hoje não é mérito do Corão em si. Eles tiveram que entender, para começo de conversa, que a interpretação 'tradicional' daqueles textos podia estar equivocada e - se fosse o caso - reinterpretá-las.

Esses muçulmanos fotografados estão, sem sombra de dúvida, realizando uma transformação para melhor no sistema de crenças e/ou comunidade de fé no qual se inscrevem.

É só o começo, mas é um começo interessante e digno de nota.

Porém, que ninguém se iluda: esses lindos LGBT muçulmanos que transitam pelo Canadá, Estados Unidos e Inglaterra devem estar no topo da lista dos infiéis e blasfemos que merecem a morte na opinião de um considerável número de muçulmanos ao redor do globo, inclusive os que migraram para os países onde esses muçulmanos LGBT desfrutam da liberdade civil e secular que lhes permite crer, celebrar, pregar, orar como na qualidade de LGBT muçulmanos ou até mesmo desertar desse sistema de crenças sem serem decapitados, enforcados ou apedrejados.

Comentários

Postar um comentário

Deixe suas impressões sobre este post aqui. Fique à vontade para dizer o que pensar. Todos os comentários serão lidos, respondidos e publicados, exceto quando estimularem preconceito ou fizerem pouco caso do sofrimento humano.

Postagens mais visitadas deste blog

Humorista 'Picolina' é encontrada morta dentro de casa em Fortaleza

Zeus e Ganimedes: A paixão entre um deus e um príncipe de Tróia

A homossexualidade no Egito antigo