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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

Blog Fora do Armário: último ano da década

Por Sergio Viula
31/12/19

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Feliz 2020, querido(a) leitor(a)
do Blog Fora do Armário.


O último ano da década começa assim que o relógio tocar meia-noite. 

Essa é a nossa chance de darmos à segunda década do milênio um final feliz.

Eu me lembro que o ano 2000 costumava me parecer tão distante quanto a galáxia de Andrômeda. No entanto, encerraremos a segunda década deste milênio quando 2020 terminar.

Nessas quase duas décadas do segundo milênio do nosso calendário, muita coisa aconteceu. E não me refiro apenas ao mundo ao meu redor, mas também à minha vida pessoal. 

Foi no ano 2000, especificamente, que eu comecei a ver a porta do armário se romper totalmente diante de mim. Não que eu tenha saído ao primeiro tremor das fechaduras. Na verdade, meu primeiro ensaio de voo para fora do 'closet'  foi em 2001, mas só me livrei definitivamente das cadeias existenciais  da  homofobia dois anos depois.

Sai do armário - sem passagem de volta - em 2003. E, já em 2004, decidi me opor publicamente às falaciosas e perigosas terapias de reorientação sexual - a popularmente chamada "cura gay". 

Debutei em escala nacional na revista Época daquele ano. Depois disso, não parei mais. Minha bandeira anti-cura-gay trêmulou em países estrangeiros através da revista americana The Advocate e de muitas outras. Pude ver meu depoimento reproduzido em inglês, francês, alemão, espanhol, japonês, italiano, russo, etc. 

Minha alegria não vinha do fato de ganhar notoriedade, mas da percepção de que era possível combater essa violência psíquica, absolutamente prejudicial àqueles que são submetidos a ela, por meio da conscientização pública. Era preciso desmascarar os embustes fabricados por fundamentalistas religiosos intelectualmente desonestos e ignorantes. Isso já estava em andamento.

Graças aos esforços de cientistas, profissionais de saúde mental, políticos, profissionais da área do direito, e de ativistas dos direitos LGBT (principalmente estes), vimos, nestas duas décadas agora quase completas, vários avanços no tocante aos mecanismos de proteção às pessoas  que são vítimas em potencial desses picaretas que prometem curar o que não é patológico, adoecendo as pessoas que se submetem a seu comando de maneiras nunca imaginadas por elas mesmas.

No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia, responsável por regular e prover diretrizes ao trabalho de psicólogos, bem como outros órgãos que supervisionam o ofício de médicos, psiquiatras, assistentes sociais, psicanalistas, entre outros, vêm se posicionando com clareza e firmeza contra indivíduos que pretendem utilizar esses campos de conhecimento científico para disseminar falcatruas maquiadas com terminologia pseudocientífica.

Nos Estados Unidos, vários estados já criaram legislação contra a "cura gay". Em breve, a Suprema Corte se pronunciará sobre esse tema, pondo fim aos pretextos falaciosos daqueles que já trancafiaram crianças, adolescentes e jovens em internatos ou clínicas com a pretensa finalidade de mudar sua orientação sexual, quando a pessoa é lésbica bissexual ou gay, e de "reajustar" sua identidade ou expressão de gênero, quando se trata de pessoa transgênera ou de gênero fluído.

A Alemanha já proibiu essas práticas em seu território. Vários outros países têm seguido essa mesma linha, baseando-se nos conhecimentos científicos disponíveis e nos direitos humanos básicos e universais - o que inclui  proteção contra a discriminação  por orientação sexual e/ou de gênero.

É estimulante ver quanto progresso já foi feito nos últimos 20 anos nesse sentido.

Poderíamos também falar dos avanços na legislação que diz respeito à conjugalidade, à criminalização da homofobia e transfobia, e aos procedimentos de modificação física disponibilizados para pessoas trans, quando for o caso. Apesar de haver há possibilidade de atendimento pelo SUS, ainda é preciso ampliá-lo para atender a demanda. Muitas pessoas não entendem que esses  procedimentos não são de cunho meramente estético, mas que dizem respeito à promoção de saúde mental e de bem-estar social a uma parcela da população com altas taxas de depressão, ansiedade e de suicídio por falta desse tipo de assistência médica e psíquica.

Ao mesmo tempo em que celebramos esses avanços, precisamos nos lembrar que mais de 70 países ainda punem pessoas LGBT por seu amor ou expressão de gênero, e que o Brasil continua matando a população LGBT nos grandes e pequenos municípios que compõem a nossa federação.

Não nos esqueçamos que tais perseguições ocorrem em países dominados por governos de direita, de esquerda e de cunho teocrático. Assim como muitos avanços ocorreram em países com governos tanto de esquerda como de direita. Isso porque os direitos chamados LGBT  são direitos humanos. E como tais, não estão necessária ou essencialmente atrelados a agendas desse ou daquele viés econômico.

Avanços têm sido feitos em países tão diferentes quanto Angola, Taiwan e Mônaco. Atrasos ou retrocessos também têm ocorrido em países tão diversos quanto Rússia, Brasil e Bolívia.  Isso por si só já deveria nos mobilizar para garantir que aqueles que nos governam ou que venham a nos  governar cumpram o que determinam a  Constituição Federal  e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pelo Brasil, assim como por todos os países que compõem a ONU. Ambas devem ser cabalmente cumpridas. E quando se trata de uma parcela da população historicamente desprezada e perseguida, é preciso vigilância ainda maior sobre as violações cometidas ou toleradas contra esses direitos, especialmente quando partirem de governantes e instituições que deveriam promover e garantir tais direitos.

Não podemos mais nos dar ao luxo de votar sem levarmos em consideração o que diz o candidato desse ou daquele partido em relação à diversidade sexual e às transgeneridades, especialmente no tocante às políticas públicas que farão parte de seu programa de governo.

Diante de tudo que foi exposto, convido você a encerrar o último ano da segunda década desse milênio (2020) votando em gente comprometida com a diversidade humana e com o pluralismo que caracteriza as nossas cidades, cada uma delas com sua própria especificidade.

Teremos eleições para prefeitos e vereadores em 2020.  Não caiamos na armadilha de eleger fundamentalistas religiosos ou outros reacionários. Tomemos a administração de Marcelo Crivella, atual prefeito do Rio,  como exemplo claro do perigo e do fracasso que esse tipo de gente representa. 

Munidos dessa memória, votemos em pessoas que claramente valorizam a cultura popular, o turismo, inclusive aquele que atrai o famoso pink money; pessoas comprometidas com a criação de políticas inclusivas e afirmativas na área da educação, da saúde, da segurança pública, da moradia, com um olhar muito cuidadoso sobre as pessoas socialmente e financeiramente mais marginalizadas, inclusive aquelas que o são por sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Não podemos ter, em qualquer cidade do território nacional, prefeito ou vereador com a mentalidade de Crivella, aquela que persegue ou despreza o carnaval, o réveillon, a parada LGBT, a Bienal do Livro, entre outros eventos importantes para a cidade - tudo por causa de estreiteza mental baseada em dogmatismo religioso. 

O mais recente ataque dele contra a população do Rio de Janeiro foi a tentativa de impedir a tradicional procissão realizada em homenagem a Iemanjá.

Mas, não se iludam. Isso é só a ponta do iceberg.  Além de tudo isso, ele foi incompetente, descomprometido com a cidade, insensível para com as necessidades básicas da população mais pobre, além de deixar a cidade falida. Falência provocada por ele mesmo.

É preciso voltar a pensar a cidade do Rio, bem como outras cidades,  em categorias progressistas libertárias, pacíficadoras, amistosas, sustentáveis, inclusivas e visionárias.

Inaugure 2020 com esse tipo de pensamento. Certifique-se de encerrar o ano que vem - o último desta década - tendo agido com essa mentalidade em todos os âmbitos de sua vida, especialmente na hora de votar. Não se deixe levar por mantras que apelam à família, Deus, armas, etc. quem faz uso desse tipo de artifício discursivo geralmente esconde um lobo devorador sob a pele de um aparentemente inofensivo cordeiro. Você já viu isso muitas vezes antes para se deixar enganar agora ou mais uma vez.

Defendendo a liberdade de ser e de amar sem o patrulhamento do dogmatismo fundamentalista e de suas crias, desejo um feliz 2020 a todos os leitores do Blog Fora do Armário. Saúde, paz, amor e dinheiro no bolso!

Sergio Viula



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