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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

De onde vem o ódio de cristãos fundamentalistas contra os homossexuais e outros indivíduos que escapam à heteronormatividade? - Respondendo uma pergunta no Facebook.




De onde vem o ódio de cristãos fundamentalistas contra os homossexuais e outros indivíduos que escapam à heteronormatividade?

Respondendo uma pergunta no Facebook.

Escrito por Sergio Viula
06/11/14 


Não acredito numa causa única para a homofobia dos chamados cristãos conservadores que usam a Bíblia para legitimar suas ideias sobre a “pecaminosidade” da homossexualidade ou das relações homossexuais em si. Penso que seja um conjunto. 

Vejamos algumas pistas:

O cristianismo nasce no Oriente Médio, região que durante séculos via nas relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo tanta sacralidade quanto a que enxergava nas relações entre pessoas de sexos diferentes, ao ponto de realizarem cultos aos deuses mesopotâmicos que incluíam sexo ritual tanto numa modalidade como na outra. Vale lembrar que relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram encaradas com mais ou menos naturalidade em outras regiões também, como na África, na Ásia, nas Ilhas do Pacífico e na Europa. 

Foi com o advento do judaísmo que diversas práticas religiosas dos povos que viviam ao redor dos judeus começaram a ser consideradas abomináveis (extremamente odiosas). Muita coisa foi incluída nesse pacote: culto a outros deuses; comer carne crua; usar roupas com mais de um tipo de tecido; fazer cicatrizes no corpo, inclusive tatuagens; representar qualquer coisa ou pessoa no céu, na terra ou debaixo da terra (de aves a minhocas, nada de arte); casamento com pessoas de outros povos; relações entre homens (veja que não há qualquer proibição das relações entre mulheres na lei mosaica, e o mesmo silêncio percorre todo o Velho Testamento), e por aí vai.

Entre a criação do judaísmo como religião e o surgimento do cristianismo como seita dele, passaram-se mais de três mil anos. Imagine TRÊS MIL anos de doutrinação anti-homossexual! Veja que a palavra que eu uso (homossexual) nem existia naquela época, como também não existia QUALQUER palavra para definir a relação sexual entre dois homens, e por isso mesmo, Moisés usou uma analogia para representar essa relação: “deitar com outro homem como com mulher”. 

Veja o versículo: 

“Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.” (Levítico 20:13).

Aqui, pode surgir o seguinte questionamento: 

“E a palavra sodomita? Ela não aparece no Velho Testamento?”

Sim. A palavra sodomita surge em escrito posterior a esse, precisamente no livro de Deuteronômio, que muitos duvidam que tenha sido escrito por Moisés, só para começo de conversa. Basta dizer que o livro inclui até a morte do legislador e a sucessão de Josué como líder. 

Mas, vamos lá: O livro de Deuteronômio usa a palavra sodomita para se referir à prostituição masculina. O nome sodomita significava originalmente: nascido em Sodoma. Assim como Israelita significava nascido em Israel. Depois, o termo passou a ser associado à prostituição masculina. Só mais tarde, passou a ser aplicado a qualquer pessoa que fizesse sexo com outra pessoa do mesmo gênero, ainda que sem pagamento.  Isso se explica pelo fato de que as pessoas vão ampliando, reduzindo, ou seja, modificando o modo como uma mesma palavra é aplicada. Algumas até desaparecem, dando lugar a outras. Isso é um fenômeno de qualquer língua.

Veja o que diz Deuteronômio:

“Não haverá prostituta dentre as filhas de Israel; nem haverá sodomita dentre os filhos de Israel. Não trarás o salário da prostituta nem preço de um sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto; porque ambos são igualmente abominação ao Senhor teu Deus.” (Deuteronômio 23:17,18). Grifo meu.

Basicamente, o problema dos judeus com a relação homossexual era a prostituição, já eles não tinham o menor problema com a relação heterossexual, mas reprovavam a prostituição entre um homem e uma mulher de qualquer modo. Vejam que eles colocaram repetidamente as duas juntas: a prostituição masculina (neste caso, um prostituto atendendo homens) e a prostituição feminina (aqui pensada como uma prostituta atendendo homens).

Esse costume de povos não judeus, de associar sexo a rito religioso, vai caracterizar diversos momentos da história religiosa dos próprios judeus. Vejamos o que aconteceu durante muitos anos no templo de Jeová, o deus dos judeus

Como qualquer povo, 0s israelitas sincretizaram sua religião com as religiões ao redor. É fácil entender o processo. Basta olhar para o Brasil com sua mistura de catolicismo e religiões africanas, por exemplo. Ou de igrejas neopentecostais com superstições populares como olho grande. 

O que aconteceu exatamente no templo de Jeová, então?

Os judeus passaram a cultuar Aserá, uma deusa mãe, também chamada de Rainha do Céu (faz lembrar alguém?). Pois bem, mulheres e homens que faziam sexo com outros homens participavam de seu culto desde sempre, e quando a deusa foi agregada ao templo de Jeová, lá estavam os dois de novo: homens e mulheres que faziam prostituição ritual preparando suas oferendas, roupas, etc. As coisas ficaram mais complicadas para eles com o nascimento de um novo rei.

Josias, rei de Judá (nesta época separada do restante de Israel), depois de ser instruído pelo sacerdote Hilquias, um conservador e literalista da lei mosaica, reorganizou a religião israelita em seu domínio. Ele destruiu os altares que os reis anteriores haviam construído sobre as colinas, derrubou os ídolos e destituiu sacerdotes que não era levitas. Agora, vejam quem ele encontrou no templo de Jeová a serviço de Aserá, sua rival!!! Mulheres e sodomitas:

“Também derrubou as casas dos sodomitas que estavam na casa do Senhor, em que as mulheres teciam casinhas para o ídolo do bosque”. (2 Reis 23:7)

É preciso manter em mente que Moisés deu a Jeová uma feição absolutamente machista, quando instituiu o culto judaico. Se havia uma ‘coisa’ que Jeová não tolerava era mulher servindo no templo, especialmente prostituta. Homens que faziam o mesmo eram tratados com igual desprezo.

Volto a dizer: TRÊS MIL ANOS de ódio religioso ao adorador de outros deuses, que muitas vezes incluía a relação sexual ritual com outros homens, só podia terminar mal. E isso tudo antes de Cristo.

De repente, Jesus entra em cena. Entre outros comportamentos questionáveis para os sacerdotes e professores da lei mosaica, estava o fato de que esse rabino andava com prostitutas. Isso, por si só, já se constituía numa quebra de paradigma extraordinária. Além de andar com elas e trata-las com a mesma dignidade com que se tratava uma virgem, ele nunca disse uma só palavra contra os tais temidos “sodomitas”. Nem mesmo abordou as relações típicas de gregos e romanos com outros homens. Nunca associou tais relações à ideia da prostituição ritual masculina, como fizeram seus antecessores. Na Grécia, as relações entre homens e mesmo entre mulheres tinham outro perfil, muito mais ligado à transmissão de conhecimento, à camaradagem e à fidelidade entre os dois amantes. Jesus NUNCA disse uma só palavra sobre pessoas que amam pessoas do mesmo sexo, apesar de estar cercado de pessoas assim, principalmente agora que Israel estava sob o comando de Roma. Vale lembrar que o domínio de Roma sobre Israel começou em 63 A.C. Portanto, quando Jesus começou seu ministério, aos trinta anos de idade, a dominação romana já contava com cerca de 100 anos. Não há dúvida de que os amores masculinos fossem bem conhecidos dos obtusos judeus daquele tempo.

O episódio do oficial romano que roga por seu servo é emblemático, porque é bem possível que o servo do Centurião romano a quem Jesus teria acudido (abstraíamos a ideia de milagre se quisermos) fosse seu amante. A história registrada em Lucas, capítulo 7, é a seguinte: 

Um centurião (comandante de 100 homens, daí o termo centurião) mandou criados pedirem a Jesus que curasse seu servo que estava doente e moribundo. A passagem diz que o servo era muito estimado pelo centurião. Pois bem, por que um homem romano e poderoso estaria preocupado com um escravo a ponto de sofrer diante da possibilidade de perdê-lo para a morte? Eles eram homens habituados a ver gente morrer; matavam sem dó. Escravo era apenas um bem que podia ser substituído. Alguns morriam até por causa dos castigos que recebiam da parte de seus senhores. Por que tanta comoção ao ponto de mandar outros escravos pedir ajuda? Há intérpretes que veem nessa passagem um caso típico de amor entre dois homens no estilo greco-romano, ou seja, quando há uma relação de amor entre mentor e discípulo, ou entre senhor e escravo. Se essa interpretação estiver correta, essa relação está muito além do conceito de ‘sodomia’ divulgado pelo livro de Deuteronômio, ou seja, o da prostituição masculina. O pedido do centurião seria é uma genuína declaração de amor: O amante sofrendo pelo amado e procurando seu bem-estar.

Segundo a passagem, Jesus curou o servo. 

De novo, se está correta a interpretação, Jesus avalizou a relação. Caso contrário, teria dito: “Estou colocando fim a essa putaria hoje. Ele vai morrer.” Muito diferentemente, a passagem diz que Jesus elogiou a fé do romano: 

“Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé.” (Lucas 7:9)

Posso imaginar Moisés se revirando no túmulo e dizendo: Como pode um gentio ser considerado mais justo que um judeu, ainda mais quando ama outro homem “como se fosse mulher”? (sic) Onde você está com a cabeça, Jesus? Ah, se fosse no meu tempo, tu já estarias debaixo de um monte de pedras, seu filho duma...

Mas, Jesus não viu problema nenhum nisso. 

Chupa essa manga, Moisés!!!

Ignorando a postura de Jesus, Paulo, que não era nada liberal como alguns pensam, mas um típico legalista, retomou os antigos preconceitos mosaicos. O grande problema de Paulo, como se vê em suas epístolas, era com a circuncisão. 

Não sei que estrago fizeram os sacerdotes no pau dele, mas o cara simplesmente odiava a ideia de cortar a pele do prepúcio como sinal da aliança entre Jeová e Israel, chegando a dizer aos cristãos da Galácia o seguinte:

“Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.” Gálatas 5:2

O problema é que o próprio Jesus fora circuncidado ao oitavo dia de nascido: 

“E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.” (Lucas 2:21)

Assim, Paulo – que odiava a circuncisão, mas não parava de reforçar diversos outros pontos da lei, mesmo dizendo que o fim da lei é Cristo – também escreveu contra a prostituição ritual masculina.

Portanto, a passagem que tantos fundamentalistas gostam de usar para falar do que conhecemos atualmente como o amor entre dois homens é apenas mais um ataque à prostituição e à idolatria. 

Na referida passagem, ele fala das mulheres também, mas novamente não é sobre as lésbicas. Ele não fala de mulheres que transam com mulheres. Ele fala de mulheres que mudaram o uso natural (da vagina), no contrário à natureza (o ânus e a boca). Para os judeus da época, todo o sexo que não fosse pênis na vagina, mesmo sendo entre homem e mulher (como oral ou anal), era contrário à natureza, mas tudo por uma preocupação sem fundamento científico sobre o sêmen. Isso pode explicar a invisibilidade lésbica na cena - o que não foi de todo ruim, uma vez que não há registro de mulheres sendo mortas por causa de suas relações nessa época. Pelo contrário, os haréns eram muito provavelmente o melhor ambiente para a manifestação do amor lésbico, já que muitas dessas mulheres, que viviam juntas o tempo todo, raramente viam seus maridos. Basta imaginar o que acontecia no harém de Salomão, que supostamente teve 700 esposas e 300 concubinas. Ai, a família bíblica... Ai, a monogamia... Ele não foi o único a ter mais de uma mulher. 

Mas, voltemos ao apóstolo que nunca andou com  Jesus.

Paulo faz logo uma ponte entre a mulher que dá a bunda e os homens que aparentemente não viam mal algum, fosse em comer uma bunda feminina ou uma bunda masculina.  Isso fica claro aqui: “Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens”. 

Veja que as mulheres teriam apenas trocado de orifício, enquanto alguns homens teriam adotado parceiros, em vez de parceiras. A passagem, porém, está novamente no contexto da idolatria, do culto à criatura (os ídolos), e dos rituais não-judaicos.

Novamente, a preocupação primária era o “desperdício” do sêmen. O sêmen era a vida. A mulher só o recebia e gerava. 

Esses "doutores" em vida após a morte não tinham a mínima noção de como se dava a fecundação. Eles não imaginavam quantos milhões de espermatozoides morrem em cada ejaculação, mesmo quando há fecundação. 

Também não podiam sequer imaginar a existência de óvulos. A mulher era apenas um receptáculo; um vácuo onde o homem colocava a vida pronta para crescer. Eles nem sequer suspeitavam que fosse preciso haver a combinação de cromossomos de ambos os parceiros para que a célula-mater pudesse ser formada e se transformar num ser humano de fato. Isso, se tudo corresse bem, é claro. 

Por pensarem que o sêmen continha uma “pessoinha” esperando para crescer no “vaso” feminino, é que os escritores do Velho Testamento, seguidos pelos do Novo Testamento, acreditavam que fosse pecado ejacular em qualquer outro lugar que não fosse numa vagina preparada para gerar mais um filhinho de Abraão. 

Por isso, nunca chamou a atenção desses ignorantes o sexo entre mulheres, porque nenhuma das duas tinha sêmen para desperdiçar. Já os homens que o fizessem podiam ser apedrejados até a morte.

O contexto da passagem é o seguinte:

“Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.” (Romanos 1:24-27)

A essa altura da história, os judeus já haviam internalizado a ideia de que as relações sexuais entre homens tinham um vínculo essencial com a idolatria, mas, na verdade, não tinham. Isso foi uma construção que ignorava diversas outras evidências que indicavam serem comuns na natureza as relações entre indivíduos de uma mesma espécie e de um mesmo sexo – o que, por si só, já desbanca a ideia de haver alguma relação sexual que fosse ‘contra a natureza’, enquanto outra fosse ‘de acordo com a natureza’. 

Resumo da ópera: sexo entre homens, entre mulheres ou entre homens e mulheres são igualmente relações naturais. 

Mas muita água rolou por baixo da ponte.

Quando os pais da Igreja (os primeiros bispos, tais como Tertuliano, Agostino de Hipona, Tomás de Aquino, e outros) começaram a escrever sobre sexualidade, eles partiram de seu já pervertido ponto de vista. Sim, porque eles corromperam a visão naturalista para impor uma moralidade ascética, indo contra tudo o que é essencialmente terreno e natural. A homossexualidade não escapou de ataques ainda mais acirrados.

Pedro Damião, em seu livro Liber Gomorrhianus, que em português significa Livro de Gomorra, publicado em 1049/1050 D.C. na Itália, denunciava abertamente os vícios do clero da igreja romana, recomendando punições severas a esses membros do clero. Entre os tais vícios, estava o sexo entre homens. Havia muitos outros "pecados", mas este (o da "sodomia") permaneceu no imaginário da igreja como o mais abominável. Ora se a “sodomia” (sic) era a causa da “desgraça” do clero, então parecia lógico ao homem comum e aos governantes que ela fosse uma desgraça para o resto da sociedade também.

Consequentemente, o ódio cresceu tanto que culminou em prisão, tortura e fogueira para os homens que amavam outros homens nos tempos da Inquisição. 

Ora, a mesma Igreja que, em seus primórdios, havia até concedido bênçãos a casais do mesmo sexo, seguindo o padrão vigente até o terceiro século do nascimento de Jesus, agora ampliava o preconceito que o judaísmo havia institucionalizado contra os "sodomitas", reforçado por Paulo, e meticulosamente trabalhado pelos primeiros pais da Igreja e teólogos posteriores. Os povos, culturas e sociedades dominados pelo pensamento eclesiásticos, seu domínio, ou que se tornavam seus campos missionários não permaneceram refratários – eles começaram a absorver todo esse ódio.

Governos, leis, política, sistemas educacionais (que no Ocidente tiveram tudo a ver com a Igreja em seu nascedouro) foram sendo perpassados por ideias cruelmente preconceituosas contra pessoas gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, intersexuais – como as denominamos hoje. Atualmente, a sigla mais comum é LGBT, mas não é completa. A sexodiversidade e a experiência humana de gênero é muito mais complexa do que quatro letrinhas. O que interessa é que essa turma toda sempre esteve aí, antes mesmo que os primeiros caracteres hebraicos surgissem no mundo.

Com a Reforma, algumas coisas mudaram, mas outras foram mantidas. O ódio às pessoas que amam pessoas do mesmo sexo foi uma dessas coisas que ficaram. Só agora, no que chamamos de pós-modernidade, é que as Igrejas Reformadas começaram a pensar e praticar a inclusão LGBT em alguma medida. 

Insatisfeitos com tão pouca abertura, cristãos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais decidiram exercer seu direito à livre reunião e à liberdade de culto, formando suas próprias comunidades, seguindo mais um princípio da própria Reforma Protestante – o de que todo cristão é um sacerdote, ou seja, o princípio do sacerdócio universal dos crentes, e o de que todo cristão pode interpretar as escrituras cristãs sem o auxílio do magistério da igreja. Duvido que qualquer um deles, seja católico, ortodoxo, reformado, pentecostal, neo-pentecostal, ou qualquer outro,  mesmo os mais doutos, consiga realmente interpretar perfeitamente o que quer que seja na Bíblia, mas deixa como está por enquanto.

Esse fenômeno chamado “igrejas inclusivas” tem atraído a atenção das demais igrejas, inclusive da católica que, graças ao Papa Francisco, começa a discutir uma possível abertura aos casais homoafetivos e às famílias homoparentais. A discussão segue acirrada, mas é um passo notável partindo de um papa, especialmente considerando-se a história de ódio e perseguição que acompanha a chamada santa madre igreja.

Por isso, não se pode dizer que o preconceito do crente mediano tenha uma causa só. Diversos fatores estão interligados, ainda que nenhum deles se sustente diante do mais suave escrutínio racional. São todos meros e terríveis preconceitos. 

O cristão inteligente perceberá que não poderá servir melhor a Cristo do que fazendo o mesmo que ele: acolher as pessoas que amam pessoas do mesmo sexo, sem dizer uma palavra sequer de reprovação contra elas e seus amores. Mais
do que isso: garantindo que o amor delas tenha espa
ço para se realizar e se manter como no caso do centurião que, graças a Jesus, teve seu servo amado poupado da morte, para viver ainda muito tempo de amor. Se Jesus tinha o poder de curar, é outra história. O que importa é o que representa a inclusão dessa passagem no cânon do Novo Testamento.






Comentários

  1. Muito interessante e muito esclarecedor. Resta saber se quem realmente precisa ler essa matéria, como está escrita aqui, será capaz de entendê-la. É muita informação e muita cultura junta. Isso dificulta a compreensão dos mais preconceituosos, que geralmente são os mais ignorantes, no sentido cultural da palavra. Pra mim a maior causa do preconceito, seja ele qual for, é a incapacidade de compreender as coisas a fundo. Esse texto deveria ser lido por todo fundamentalista homofóbico que usa a Bíblia e conhecimentos históricos descontextualizados para fundamentar o seu preconceito. O link a seguir mostra o preconceito infundado de pessoas como Bolsonaro. https://www.facebook.com/video.php?v=139277452909175&set=vb.130614307108823&type=2&theater

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