UCRÂNIA E OS LGBT+: RESISTÊNCIA EM MEIO À GUERRA E AO PRECONCEITO
Por Sergio Viula
O movimento LGBT+ na Ucrânia é um exemplo de resiliência e coragem em um país marcado por profundas transformações políticas, culturais e sociais. A trajetória de lutas e conquistas revela não apenas avanços legais, mas também a resistência de uma comunidade que enfrenta, até hoje, preconceito, violência e guerra.
Do crime à visibilidade: uma mudança histórica
A homossexualidade foi criminalizada durante todo o período da Ucrânia como república socialista soviética. Somente com a independência, em 1991, a homossexualidade deixou de ser crime, abrindo caminho para uma lenta e difícil construção de direitos e reconhecimento.
Nos anos 2010, as marchas do orgulho começaram a ganhar espaço. Se antes apenas Kiev via tais eventos, cidades como Kharkiv, Zaporizhzhia e Odesa também passaram a receber suas próprias paradas, mesmo diante de protestos e episódios de violência.

Um marco importante veio em 2015: a proibição da discriminação no ambiente de trabalho com base em orientação sexual e identidade de gênero. Ainda assim, a homofobia continuou forte, especialmente em regiões mais conservadoras, como o leste ucraniano, onde a influência russa é maior.
O papel das organizações e ativistas

Organizações como a Insight passaram a oferecer suporte jurídico, psicológico e até abrigos para pessoas LGBT+ vítimas de violência. Ativistas como Anna Sharyhina, cofundadora da KyivPride e da associação feminista Sphere, têm papel fundamental na organização de marchas e na manutenção de centros comunitários, muitas vezes alvos de ataques físicos e campanhas de ódio.
LGBT+ na linha de frente da guerra
Com a invasão russa em 2022, algo inédito aconteceu: diversas pessoas LGBT+ se alistaram nas Forças Armadas ucranianas. Essa presença visível ajudou a quebrar estereótipos e a transformar a percepção pública da comunidade. Um detalhe simbólico e poderoso foi a adição de um unicórnio aos uniformes de soldados LGBT+, representando orgulho e visibilidade em meio ao conflito.

Mesmo diante da guerra, os eventos do orgulho não pararam. Em 2023, a cidade de Kharkiv sediou o evento “Figuras Invisíveis”, em homenagem a soldados e civis LGBT+ impossibilitados de participar devido ao conflito.
E em junho de 2024, Kiev realizou sua primeira marcha do orgulho desde o início da guerra, reunindo cerca de 500 pessoas, entre civis e militares, em um ato de coragem, resistência e esperança.
Uma luta que continua

A história do movimento LGBT+ na Ucrânia mostra como a busca por direitos humanos pode resistir mesmo às situações mais adversas. Entre preconceito, guerra e violência, o orgulho continua ecoando pelas ruas ucranianas — e segue sendo um ato político e de sobrevivência.
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