Coragem e escrita: pioneiros da literatura homoafetiva na Rússia

Coragem e escrita: pioneiros da literatura homoafetiva na Rússia


Por Sergio Viula


A história da literatura russa guarda nomes que desafiaram normas sociais e políticas para expressar sua sexualidade e identidade. Em tempos de repressão, esses escritores não só revelaram seus desejos, mas também abriram caminhos para a literatura LGBT+ na Rússia. Entre eles, destacam-se Mikhail Kuzmin, Grão-Duque Konstantin Konstantinovich e Evguêni Kharitonov.


Mikhail Kuzmin (1872–1936)


Mikhail Kuzmin

Pioneiro da literatura homoafetiva russa, Kuzmin abordou abertamente temas LGBT+ em sua obra. Seu romance Asas (1906) narra a história de Vânia Smurov, um jovem que descobre sua sexualidade ao se apaixonar por seu mentor, Larion Strup. A obra causou escândalo na Rússia czarista, mas é hoje considerada um marco da literatura LGBT+, mostrando que a expressão do amor entre pessoas do mesmo sexo sempre encontrou formas de existir, mesmo em sociedades conservadoras.


Grão-Duque Konstantin Konstantinovich (1858–1915)


Grão-Duque Konstantin Konstantinovich

Membro da família imperial russa, Konstantin Konstantinovich manteve diários íntimos nos quais revelava suas lutas relacionadas à homossexualidade. Apesar de ser casado e pai de nove filhos, ele descreveu encontros com homens e os conflitos entre suas obrigações públicas e seus desejos pessoais, oferecendo um retrato profundo da tensão entre identidade e expectativa social.


Evguêni Kharitonov (1941–1981)


Evguêni Kharitonov 

Escritor e cineasta vigiado pela KGB, Kharitonov escrevia e distribuía seus textos de forma clandestina. Durante a era soviética, ele abordou temas homoafetivos em sua obra, deixando um legado fundamental para a literatura underground russa e mostrando a resistência do amor e da expressão sexual mesmo sob regimes repressivos.


Perseguição e resistência LGBT na Rússia hoje


Vladimir Putin tem perseguido os cidadãos russo LGBT sem trégua


Infelizmente, a perseguição à comunidade LGBT+ na Rússia não é coisa do passado. Desde 2013, a chamada “lei contra a propaganda gay” proíbe qualquer divulgação de informações sobre relações entre pessoas do mesmo sexo para menores, criminalizando a visibilidade e silenciando vozes LGBT+. Ainda assim, movimentos de resistência surgem em diferentes formas: publicações independentes, ações de ativismo online, grupos de apoio e artistas que continuam a criar obras que afirmam a diversidade sexual. A coragem de Kuzmin, Konstantinovich e Kharitonov ecoa até hoje, inspirando novas gerações a lutar por liberdade, expressão e dignidade.

Esses exemplos históricos e contemporâneos nos lembram que a coragem de viver e escrever quem somos não é recente. A literatura e a resistência LGBT na Rússia continuam a ser ferramentas de afirmação, identidade e esperança, provando que mesmo sob repressão, a diversidade sempre encontra formas de resistir.

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